Boa tarde!
Hoje estou muito feliz em poder responder a uma ex-estudante minha!!! Muito obrigada Fernanda! Fico lisonjeada… 🙃 E Felicidade, não se preocupe com o tamanho do texto…
Escrevo como publicação para ver se mais pessoas podem ler…
Eis o cometário abaixo:
“Boa Dra. Beatriz! Fui sua aluna na Faculdade de Medicina e devo dizer-lhe que gosto muito do blog!
Gostaria que abordasse o tema Dinâmica, mãe, mulher, esposa, trabalhadora e estudante! Pois muito oiço que tudo se complementa é só ter uma “agenda”, mas a verdade é que a vida é corrida. Andamos de clínica em clínica, estamos a estudar (mestrado/doutoramento/especialidade) temos filhos, eu neste caso um pedacinho de carne de 9 meses, sou casada. Ufff. Gostaria de perceber da sua rotina e como o faz! E uma questão levou o seu filho quando foi a Suécia para o Doutoramento? Se sim, como foi?
Desculpe o texto longo”
Eis a minha resposta:
Cara Felicidade.
Muito obrigada pelo comentário e dúvidas, e os meus parabéns pelas suas conquistas.
Realmente a rotina não é fácil. Uma das coisas que nunca fiz e nunca quis fazer é andar de clínica em clínica. Alguns podem criticar, e pensar que tenho uma vida financeira abastada, pois sei que a maior parte dos profissionais de saúde andam de clínica em clínica para poder melhorar o seu rendimento. Mas, eu preferi abdicar disso para realmente ter uma vida mais equilibrada. Sou docente e pesquisadora desde 2008 e trabalhei em um hospital geral e dois centros de saúde públicos por 5 anos. Quando era solteira até podia fazer mais clínica, mas realmente não quis fazer.
Uma das coisas que me ajudou foi ter um marido que apoia as minhas decisões. É claro que se eu disser algo com que ele não concorda, ele expõe a sua opinião e eu depois tomo a decisão com ele. O mais importante é a comunicação entre os parceiros. As vezes é necessário nos esforçamos mais para ajudar o nosso parceiro a entender a decisão que queremos tomar, mas a conversa resolve.
Como consigo? É algo que aprendo todos os dias. Não há uma fórmula para tal. Mas em primeiro lugar temos que gostar do que estamos a fazer. De seguida, creio que para além de termos aliados dentro de casa, na família e no local de trabalho, é importante nos amarmos e nos conhecermos. Saber os nossos limites.
Eu sou péssima a trabalhar com notas, agendas, etc… Lembro-me que na faculdade durante o curso de medicina os docentes nos incentivavam a tomar notas. Eu comprava blocos de notas, cadernos, canetas de várias cores, marcadores, etc., e no fim do dia, pegava no livro e lia por inteiro…. Não conseguia concentrar-me usando as notas… e sou assim até agora… Sei que é algo recomendado, mas realmente tenho dificuldade.
Outra coisa que aprendi, foi que devo dormir o suficiente sempre que posso e respeitar as horas fora do expediente, feriados e finais de semana. Eu só trabalho fora das horas normais de expediente em casos de extrema necessidade. Fiz isso para poder cuidar mais de mim e poder estar mais tempo com a minha família. Sei que pode ser loucura, mas durante o curso de medicina nunca dormi depois das 22hrs, mesmo tendo exames… fiz a mesmo no mestrado e agora no doutoramento. Quando tinha noites no hospital onde trabalhava tentava compensar as noites de sono durante o dia… Lembro-me que quando viajava para o doutoramento fazia questão de ir para a cama na sexta-feira, acordar só para falar com a minha família, ir a casa de banho, comer e voltava as actividades normais só na segunda-feira.
Para além disso, tento andar muito a pé e fazer exercícios leves. Quando viajo para o doutoramento uso transportes públicos apenas em casos extremos. A distância do alojamento até a universidade é de mais ou menos 40 minutos. Então andava a pé pelo-menos 80 minutos por dia. Confesso que aqui em Maputo seja mais difícil fazer essas caminhadas.
Nem todos têm as mesmas condições que eu e nem as oportunidades, mas esta é a minha forma de cuidar de mim.
Quanto a levar o meu filho para a Bélgica – não Suécia como a Felicidade tinha dito – levei a ele quando tinha 5 meses pois ainda estava a amamentar. Isso foi na minha primeira viagem. Ele ficou comigo lá por 3 meses. A vantagem de lá é que há uma creche bem dentro da universidade. Então eu levava a ele logo de manhã, deixava a ele na creche e no fim do dia ia o buscar. Sendo assim, depois da hora do expediente e finais de semana não estudava para poder cuidar dele. Na segunda viagem ele já tinha um ano e quatro meses e sendo assim, deixei-o com o meu marido.
Bem, espero que tenha ajudado. Mas estou aberta a mais esclarecimentos.